domingo, fevereiro 05, 2006

Pós-tipografia: Electrónica



Com o desenvolvimento da electrónica e das comunicações a expressão verbal aprofundou a espacialização da palavra e provocou a consciência de uma nova era: a da oralidade secundária.

Apesar de se dizer que com o aparecimento dos meios electrónicos, nomeadamente do computador, se preconiza o fim do livro, tal não é verdade.
Um media não substitui o outro!
Transforma-o, dando-lhe uma nova dimensão.
Segundo Walter Ong, a informação obtida e/ ou processada em computador, expande o produto tipográfico, aumenta a entrega da palavra e “optimiza a sequência analítica, ao torná-la virtualmete instantânea” .

A oralidade secundária é semelhante à primária e simultaneamente diferente.
Essas semelhanças e diferenças prendem-se essencialmente com o espírito de grupo, com a espontaneidade e com a oratória.
Tal como a oralidade primária, a secundária fomentou o sentimento de grupo. No entanto, nesta ultima, o grupo é muito mais alargado, dado que não há a necessidade de estar no mesmo espaço físico a ouvir a leitura de um livro, ou a assistir a um debate. O grupo deste tipo de oralidade é incomensuravelmente maior: aldeia global, preconizada por McLuhan.

Para além disso, nos povos da oralidade primária, a necessidade do grupo, era eminente, dadas as poucas alternativas que tinha. Aqui, segundo Ong, o espírito de grupo é um acto “autoconsciente” e “programático”.

Relativamente á espontaneidade o autor refere que ambas as fases promovem a espontaneidade. Na oralidade primária por ausência de espírito analítico e reflexão, enquanto que, na segunda, justamente pelo facto de usar a reflexão e o espírito analítico, se conclui que a espontaneidade é benéfica.

Outra das diferenças prende-se com a oratória. Actualmente o rádio e a televisão produzem oradores de um público mais vasto do que o público dos oradores do tempo da oralidade primária. Oradores muito menos cansados física e emocionalmente, dado que falam para um público” invisível, inaudível, ausente”, onde não há sequer opositores com um antagonismo aberto e hostil. Onde os candidatos se submetem à “psicologia dos media”.
“Não obstante a sua aparência civilizada de espontaneidade, essa media é totalmente dominada por um sentimento de fechamento que é herdeiro da impressão: uma exibição de hostilidade poderia romper o fechamento, o controle rigoroso.”

Baseado no livro de Walter Ong, Oralidade e Cultura Digital, V Capítulo

Sem comentários: